Aline Frazão, jovem cantora angolana lança hoje, dia 21 de setembro de 2018, o seu quarto disco de inéditas intitulado “Dentro da Chuva”.
Cantora de voz serena, compositora inspirada, violonista dedicada, Aline Frazão, fazendo caminho semelhante ao de outras cantoras de África, como Cesária Évora, Sara Tavares e Mayra Andrade veio ao Brasil registrar o belo momento de seu cancioneiro.
Gravado no estúdio Rock It, no Rio de Janeiro, o disco conta com a luxuosa participação de músicos como o violoncelista Jaques Morelenbaum; o compositor e guitarrista português João Pires, (Um Corpo Sobre o Mapa); Gabriel Muzak, que assina a gravação e mixagem do álbum, além da co-produção de duas faixas do disco (Fuga e Manifesto) e participação, como guitarrista, na música “Zénite”; e Luedji Luna, cantora e compositora baiana conceituada por Frazão, em suas redes sociais, como “o novo Brasil, o mais bonito” e uma “das vozes mais africanas desse novo Brasil”.
Atenta à certeza da beleza desse encontro, Aline juntou sua voz à de Luedji no tema “Kapiapia” (Ruy Duarte de Carvaho), texto vertido em música por Frazão, do qual se extrai o título do álbum, “Dentro da chuva”, e que é o primeiro dueto da cantora em disco.
Aline Frazão – Dentro da Chuva [Making Of de gravação do disco – com Luedji Luna]
Apostando numa sonoridade mais acústica, ou mais “despida”, como diz Aline sobre o seu quarto álbum, a cantora vem rompendo fronteiras geográficas e musicais desde o seu primeiro trabalho, “Clave Bantu” (2011). Depois de trabalhar em estúdios da Escócia e Espanha, optou pelo Brasil para gestar o seu mais novo rebento.
Em entrevista recente para o site DW/África disse que tem uma certa fixação com o lugar onde escolhe gravar seus trabalhos, pensa que há grande influência no seu modo de perceber o álbum, já que “A cidade onde pisamos quando saímos do estúdio, acho que isso tudo são coisas que nos entram pela pele e saem pela expressão artística”.
Transitando por diversos países do mundo, Aline pensa a partir de “Um corpo sobre o mapa” que embora tenha feito diversas viagens, sempre volta para o mesmo lugar, sua Luanda natal.
“Quando vivemos na diáspora idealizamos muito esse lugar, essa nave mãe e quando regressamos a ela nem sempre as expetativas se encontram. No meu caso, superou as expetativas e isso deixa-me muito contente” (Entrevista à DW África).
Com uma trajetória assim não é de se espantar que Aline é apaixonada por línguas. Em “Dentro da Chuva” canta canções em português, crioulo e francês, outro ineditismo do disco brasileiro de Aline Frazão. O primeiro single divulgado do álbum, “Peit Ta Segura” (Danilo Lopes da Silva) é cantado em crioulo de Cabo Verde, e tem um sentido íntimo e profundo para Aline.
Como disse em entrevista para o site Portugal Rebelde esse era um desejo antigo.
“O meu avô materno é de Cabo Verde e sempre vi a música desse país como uma das minhas referências. “Peit Ta Segura”, que em português seria algo como “O Peito Carrega”, é uma canção de uma beleza essencial. Fala sobre esse jogo de forças da natureza que seguram o céu, o mar e os corações apertados deste mundo.” (Entrevista para o Portal Portugal Rebelde).
Aline Frazão – Peit Ta Segura (Danilo Lopes da Silva)
Além da poesia intimista, o álbum traz as pautas que a cantora levanta por meio de uma crítica social apurada à política em Angola, como em “Manazinha (Novo Dia)” (Aline Frazão), que aborda o estado da saúde pública no país em estágio de desenvolvimento estagnado. Por isso, diz que o “estado daquele lugar lhe lembrou 92″.
Assim como a crítica, a cantora entoa o feminismo em tom afetivo por meio da canção “Sumaúma” (Aline Frazão) em que homenageia várias mulheres que a inspiram, “as irmãs de causa e de casa”, mulheres de sua geração e de gerações anteriores.
Por meio do belo clipe de Sumaúma, segundo single do disco, Aline propõe uma reflexão sobre o lugar do afeto entre as mulheres nos coletivos feministas, como o que ela faz parte (Colectivo de mulheres feministas angolanas Ondjango Feminista).
“No meio do ativismo, vamos ficando amigas e é uma canção que celebra esses laços afetivos, essa relação de admiração, de confiança, e de constante aprendizagem. Essa canção tem a ver com isso. Não só essas amigas, mas também as mulheres da minha família. É uma celebração de feminismo do ponto de vista afetivo” (Entrevista à DW África).
Considerada uma árvore-mãe segundo uma tradição ligada a povos indígenas da América do Sul, essa árvore imponente é cantada como uma metáfora associada às mulheres, à semelhança da árvore. “És manhã, és sumaúma. A mãe de todas as plantas. A canção que a paz reclama. A voz maior, quando cantas. Diz-me o que vês lá do alto. Olhos de ver sempre longe. Braços de estar sempre perto. Dona do caminho certo” (Sumaúma – Aline Frazão).
Aline Frazão – Sumaúma
É assim que Aline Frazão, “uma voz maior quando canta”, lança seu incrível disco de toques brasileiros. O álbum, que tem o coro feminino e o prato marcando a percussão de Sumaúma, traz o sotaque afrodiaspórico a nos lembrar, a cada palavra, um pouco de tudo aquilo que há por dizer e ouvir desde Angola, tanto nossa ancestral quanto contemporânea.
Para mais informações sobre o quarto disco de Aline Frazão:
http://www.alinefrazao.com/
https://www.dw.com/pt-002/dentro-da-chuva-o-novo-%C3%A1lbum-de-aline-fraz%C3%A3o/a-45574508
http://portugalrebelde.blogspot.com/2018/05/aline-frazao-peit-ta-segura.html