DIÁLOGOS

Anelis Assumpção e a sua relação com a frustração

Como lidar com aquilo que não esperamos viver?

As dinâmicas de criação estão atreladas a espaços de tensão, onde as complicações se encontram a fim de gerar objetos artísticos ou soluções cotidianas – a criatividade não é um instrumento exclusivo da arte, ela está a serviço dos seres humanos e de suas realidades, é possível desenrolar problemas por meio da criatividade, que vem como um motor de ação.

Durante uma conferência da 3ª edição do Festival CoMA, a artista Anelis Assumpção levantou questões acerca dos seus momentos de invenção – durante a mesa “Anelis Assumpção e Consuelo: carreira, criação e feitiçaria” – ressaltando que para que a arte encontre um lugar no mundo é preciso trabalho, força intelectual e braçal. Embora não tenha rituais que criação, a cantora sublinhar que todos os dias escreve algo, seja onde for. Ela vai inventado um tempo de produção dentro da correria e da agitação.

Esse esforço acabou por se tornar um hábito e dessa forma, Alenis desenvolve sua arte apesar dos dias cheios, apesar de uma certa “força contrária” oposta aos aspectos sensíveis do mundo.

A construção de espaços e de objetos não vem sem frustrações ou sem dor. Os incômodos e os medos, de uma vida que se passa dentro de um sistema capitalista, não se ausentam dentro da dinâmica de criação.

Anelis declara que nem sempre a frustração alimenta, e que nem sempre ela é sua, às vezes ela vem de tempos outros, dos ancestrais. Há um certo sufocamento que percorre gerações e acaba por se manter, sendo parte integrante de nossas vidas urbanas onde o tempo é sempre pouco. Além disso, a ancestralidade negra traz consigo marcas muito duras e difíceis, realçando tempos conturbados, que aparece nunca passaram, apenas se transformar.

É de grande importância que os artistas desdobrem falas acerca das dificuldades partindo do campo criativo, do processo que comporta e abriga seus trabalhos, de forma que fique evidente a densidade do desenvolvido das obras. É mais do que um conceito. O “produto” final está ligado a uma série de complicações, de interferências, de medos e de frustrações.

Compreender o próprio percurso leva tempo. Assim como leva tempo elaborar estratégias para que as frustrações e ansiedades não nos engulam. Construir ferramentas capazes de nos tirar da inércia – e de uma certa lógica mercadológica – perpassa uma certa intuição humana, um certo instinto de sobrevivência.

As frustrações são parte integrante da vivência humana. Estamos cercados por modos e formas que geram expectativas e ansiedades, desejos não correspondidos. A arte tem possibilitado aos habitantes humanos dessa Terra abertura para que esse espaço (inventado) gere trabalho. Ainda que incerta e inacabada, a atividade artística corrobora para uma outra significação do estático, do que estaciona. O processo de criação se lança ao estranho, aos pequenos intervalos que Alenis inventa em seus dias, ou que gera recursos.

Like
Like Love Haha Wow Sad Angry
3
Ver mais

Letícia Miranda

Artista visual e poeta, Letícia se interessa pelas interseções entre poesia e som, poesia e imagem. Por meio de recortes busca ligar o que parece distante. Está há mais de dois anos escrevendo sobre, e a partir, da música. Além de colunista da Escuta atua como redatora no Música Pavê.

FALA AÊ!

Botão Voltar ao topo

Adblock detectado

Por favor, desbloqueie seu "Adblock", assim você colabora com nosso trabalho de forma livre :)