ENTREVISTA

ENTREVISTA: Thaís Mallon fala sobre seu percurso artístico

Em conversa com a ESCUTA a fotógrafa apresenta seu olhar e sua forma de trabalhar

Fotógrafa e videomaker desde 2008, Thaís Mallon bateu um papo com a Escuta e contou um pouco sobre sua trajetória. Ciente do lugar que ocupa, a fotógrafa fala sobre o impacto da arte na sua vida e o impacto do capitalismo na produção criativa, ressaltando a importância da colaboração e das parcerias nas construções fotográficas. Thaís acredita que é possível aprender muito mais ao compartilhar os conhecimentos e as perspectivas, ir entendendo “que o olhar do outro vai ser o olhar do outro, e que aquele olhar te ensine e não te cause dor”.

Dentro da dinâmica humana de vida é necessário está atento as coisas que serão perdidas à medida que fazemos escolhas. Na fotografia isso fica ainda mais evidente. Em quarenta minutos de show a fotógrafa precisa escolher o que vai perder, escolher o que vai mostrar e entregar.

Ao falar sobre seu processo criativo fotografando outras bandas Thaís estabelece uma relação afetiva com o que vê, compreendendo seu olhar como uma forma de “presentear o artista com uma coisa dele que ele nunca vai conseguir ver”.

E para saber mais sobre as perspectivas e ideias da fotógrafa brasiliense te convidamos a ler a entrevista exclusiva que fizemos. Vem com a gente!

O que é fotografia para você hoje?

Eu já ouvi muito fotógrafo, fotógrafa que eu admiro muito falar sobre o desenho da luz. A fotografia é esse processo de captura do desenho da luz, de brincar com a luz, de entender a luz, mas eu acho que é muito maior que isso na verdade. Porque é uma narrativa também, a foto conta uma história. Toda a narrativa que está por traz disso quem constrói é quem percebe, é o espectador. Então apesar de ser uma coisa muito pronta, é uma narrativa muito ampla, muito possível de criação e de interpretações de quem está vendo. É um espaço muito pronto e muito aberto ao mesmo tempo.

Como é trabalhar com o que você gosta?

Eu vim de uma família que nunca teve muito dinheiro, então desde a graduação eu tive que trabalhar, fiz estágio desde muito nova pra pagar as contas, sair de casa cedo pra desafogar a minha mãe. Assim que eu saí da faculdade – como eu já tinha uma experiência vasta, tanto com fotografia quanto com vídeo – eu acabei conseguindo uma vaga muito foda no Ministério da Cultura, pra trabalhar com o ministro, umas coisas grandes. Pra uma recém-formada era uma coisa do tipo “como assim?”. Eu ganhava muito bem, tinha um trabalho de muito prestígio, e foi muito maluco porque foi a primeira vez eu tive depressão. Eu sempre visito esse lugar de fazer uma parada que eu amo, que privilégio esse.

Que privilégio ter feito uma faculdade, está nos meios que eu estou, está conseguindo viver disso, não precisar de um outro emprego paralelo. É um privilégio muito grande. Mas eu acho muito difícil. Eu acho muito mágico, e quando eu acho mágico é quando chega aquele momentinho “que foto foda que eu fiz”, aí volta a fazer sentido. Vira a chavinha. Mas ao mesmo tempo eu acho muito difícil porque tem aquela pressão do “você escolheu fazer isso”, “isso é o que você ama”. Então isso traz essa prerrogativa de “você não pode achar isso ruim”.

E cara, é impossível não achar o trampo ruim às vezes. Seja porque você tá trabalhando com uma pessoa que não concorda com a visão de mundo, seja porque não é um trampo que te pegou, seja porque você tá muito cansada. Eu vivo uma realidade de muito privilégio, onde eu posso viver de fotografia, mas eu não tenho carteira assinada, eu não tenho plano de saúde, eu não tenho férias. Não lembro da última vez eu tirei férias. Não foi nem na faculdade, quando eu tinha férias da faculdade eu tava estagiando. São os prós e contras. Ao mesmo tempo que terça de manhã eu posso ir pra Água Mineral.

A fotografia modificou o jeito com que você vê o mundo?

A fotografia me fez olhar de fato pro mundo. Porque a gente tá sempre recebendo muita coisa, é o filme que a gente vê na televisão, é a música que a gente escuta no rádio. Eu sou de uma geração que a gente ouvia muito rádio. Essa parada da internet é linda por causa disso, a dinâmica mudou. A minha formação intelectual ela foi muito em cima do que eu recebia, infância e tal, muita televisão. O grande problema de você ficar refém dessas coisas é que você não percebe o mundo. A fotografia me possibilitou o pensamento crítico, questionar. Olhar a sua terra natal como se você fosse um turista. A fotografia me permitiu isso. Porque você tem que tá sempre re-olhando. Repensar no seu jeito de olhar. Perceber em volta. Eu sempre presto atenção na luz, não dá mais pra não fazer. São delicadezas do mundo que passariam despercebidas.

Qual o lugar da cultura brasileira na sua vida?

É o que pauta a minha existência. É muito doido porque eu acho que grande parte do que eu faço tá ligado direta ou indiretamente a cultura. Eu consumo muita música, escuto música o tempo todo. A própria forma de ver as coisas. Eu acho que eu sou de esquerda e feminista, por causa da cultura. Porque a cultura me mostrou desde muito nova que esse era um lado das coisas que fazia sentido pra mim. Então, de alguma forma tá em tudo que eu faço. Também nunca tinha parado pra pensar nisso.

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Letícia Miranda

Artista visual e poeta, Letícia se interessa pelas interseções entre poesia e som, poesia e imagem. Por meio de recortes busca ligar o que parece distante. Está há mais de dois anos escrevendo sobre, e a partir, da música. Além de colunista da Escuta atua como redatora no Música Pavê.

2 Comentários

  1. Maravilhosa e talentosa, como foi bom ler isso aqui! Coração chega ficar quentinho. To começando agora com a fotografia e Thaís é uma das minhas referências. Amo e admiro demais o teu trabalho♥️

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