
Navegando pela memória cultural brasileira, encontramos raridades em todas as vertentes da arte. Há pouco tempo me aplicaram uma obra prima do genial compositor brasileiro Elomar, e me inspirei pra prosear um pouco sobre música independente na história da nossa música. A obra em questão é o Auto da Catingueira, a Ópera do Sertão e não se encontra nas plataformas digitais. O que temos são algumas canções da ópera interpretadas por menestréis nos volumes da Cantoria.
Um dos personagens da Ópera é interpretado por Dércio Marques, artista que já citei na coluna sobre Música Regional Latino Americana e que, possivelmente, ainda citarei muito nas próximas escritas. Dércio é apenas um dos musicistas que teve discos gravados com o selo Marcus Pereira.
O publicitário e bacharel em Direito Marcus Pereira era também um grande apaixonado pela música do Brasil. Em reunião com intelectuais, jornalistas e artistas, criou em 1966 o bar “O Jogral”, espaço em que se encontravam para ouvir o que consideravam a verdadeira música popular brasileira. Em 1967, começou a gravar alguns artistas e teve sucesso com sua agência publicitária.
Desde então, o Selo Marcus Pereira passou a representar um grande contraponto às modas vindas de fora do Brasil, pois seu idealizador considerava-as grandes exemplos da decadência de alguns países. Para Marcus, era deplorável que países ricos economicamente viessem empurrar goela abaixo a parte empobrecida e neurotizada de suas culturas. Países esses que se empobreceram por conflitos e dificuldades de suas sociedades superdesenvolvidas e que, lamentavelmente, passaram a se alimentar de vidas humanas, sugar o espírito dos sobreviventes. Era necessária a existência de uma gravadora que valorizasse a cultura nacional, e assim o fez.
É nítido que esse tipo de empobrecimento perdura até hoje. A indústria cultural é uma máquina de produtos artísticos alienadores, responsáveis por entreter de forma estéril. A grande massa é levada pelo hipnotismo de canções superficiais e, portanto, torna-se incapaz de questionar suas realidades. Esse tipo de música traz diversas influências de culturas estrangeiras e acaba descaracterizando a música nacional pelo excesso de imitação dos grupos gringos.
Em memória de Marcus Pereira e todos os menestréis da música brasileira, nós da Escuta que é Bom carregamos o legado de mapear e imortalizar o que há de mais rico na música contemporânea do Brasil.
Referência: Armazém da Memória – Discos Marcus Pereira