João Pedreira, artista da nova cena brasiliense, acaba de lançar o primeiro trabalho que marca os próximos passos da carreira. O cantautor tem desenvolvido sua trajetória de forma consistente, ocupando palcos como o PicNik, quando fez uma apresentação inspiradora e a Mostra Sesc onde canta neste sábado (05).
Ao lado de Dinho Lacerda (bateria), André Luiz Ferro (baixo) e Gata Marx (guitarra) gravou Incêndio, com videoarte feita em parceria com Pedro Albuquerque, que captou, mixou e masterizou a faixa divulgada hoje. Também gravaram Sonho de Valsa que virá em novembro. As canções farão parte do novo EP que será lançado no início de 2020.
“A poesia traz dimensões poéticas do delírio brasiliense que é viver a seca de cada ano. Tempo em que nossa sobrevivência, a dos animais e das plantas daqui é testada e posta a prova. Cerrado é secura cortante; raiz funda no solo seco, são dias de ar parado e noites abafadas que nos moldam o Goiás. respirar. respirar. poeira. respirar. poeira… o raro vento que bate nas árvores, até confunde o ouvido ansioso pela chuva. digo, o corpo inteiro ansioso pela chuva”, João Pedreira sobre o novo single.
Após um ano do disco de estreia Água na Peneira, João Pedreira e banda, que também conta com Felype Lima revezando na guita, sentiram a necessidade de uma pegada mais orgânica nas músicas, com uma sonoridade que privilegie a execução ao vivo. Incêndio é swingada, com o compasso dançante da caixa, os rifes um tanto frevéticos e aquela dose de romance do João.
A SECA
A música foi composta na virada do ano e traz o sentimento natural e biológico de quem vive no Planalto Central e tem de se adaptar nessa época. O tempo influencia em tudo e pede novas formas de se cuidar.
“A seca – alta temperatura e baixa umidade – vai nos transformando, isso afeta nossa personalidade, nosso temperamento, nosso pensamento e nosso existir. A proposta é de se ver nessa sequidão. Uma árvore ‘pelada’ nesse ar parado. O mormaço no abraço vem muito disso, a memória corporal que peguei foi de lembrar que dormi junto com pessoas que namorei, aí chegam esses períodos você não quer nem ficar abraçado. É o encontro de várias coisas subjetivas”, revelou João Pedreira à ESCUTA.
Apesar da coincidência, João revela que a faixa não tem ligação com os incêndios criminosos que consumiram parte da Amazônia, mas vem num momento oportuno, quando a própria natureza nos chama atenção para essa unidade e essa dependência. Uma música cheia de subjetividades que nos levam a refletir nossa total relação com a terra e a água, o quanto somos parte do mundo ao nosso redor.