BRASILEIRA

Mental Abstrato lança um possível novo clássico da música brasileira

O lançamento de Uzoma nos prova que os artistas trazem o que há de melhor na música brasileira atual

Fala aí, confraria da Escuta!

Hoje eu vou trazer pra vocês um disco que pra mim é o Bitches Brew brasileiro, possivelmente o melhor lançamento desse ano em terras tupiniquins. Uzoma (que inclusive já recomendamos numa lista de lançamentos de agosto aqui), do Mental Abstrato é uma pérola que com certeza vai servir de norte para os artistas que aparecerem na cena, por sua riqueza de influências, misturas e originalidade criativa.

Os caras fazem uma mescla muito gostosa de jazz, samba, hip hop e tudo que a música africana deu de bom pra humanidade no último século. Acende o paiol, dá play no disco, pega um chazinho de erva doce e cola comigo.

Eu comecei a me interessar por jazz quando, em meados de 2009, assisti Cowboy Bebop, uma animação japonesa cuja trilha sonora é toda composta de jazz, blues e derivados. Logo de cara, eu percebi o poder de ambientação que essa variante da música tem. Então eu vou falar bastante sobre as ambientações que o disco permitiu que eu criasse na minha mente enquanto o ouvia.

“Khamisi” abre o disco me trazendo aquela nostalgia da infância no Rio de Janeiro, indo nos centros e fazendo vários nadas no campinho atrás do cemitério do bairro. Esse som é uma batucada boa que me remeteu ao samba da Martinha do Coco misturado com a Banda de Pífanos de Caruaru. Foda pra caramba.

Parece que eu tô viajando, mas relaxa, Rodrigo Brandão (que canta na música), corrobora: “deixa ressoar esse barato, produto mental, abstrato”. O disco leva várias nuances em sequência pra você brisar, como na faixa O Mar que tem participação de Gil Duarte. Sinto também muito presente o lance da ancestralidade nessa.

“Mr. Cal” abre com um sample que eu tenho quase certeza de já ter escutado no saudoso Subsolo. Segue com um sopro gostoso de flauta e os metais embasando a trip.

A próxima é “For You” com a participação de Erica Dee nos vocais, que até então eu não conhecia o trabalho. Ela canta com um feeling cabuloso, na maior vibe Erykah Badu em Mama’s Gun.

“Suco de Acerola” entra com uma pegada mais dinâmica, ritmo mais acelerado, uma groovezera que não te deixa ficar parado. Depois de te fazer dançar igual uma cachorra velha, a track dá lugar à misteriosa Afroonírico, com sua percussão reforçando a pauta da ancestralidade. Apesar dessa ser a mais “diferentona” do disco, com um jeitão mais progressivo, é uma das mais fortes.

A sétima música do disco é o sambinha “Samambaia Rainha”, com a já veterana Claudya, mostrando que a voz dela ainda tá com tudo em cima. Noite Vazia conta com a participação do grande trombonista Bocato, remetendo àquelas noites que a gente preenche o vazio da existência pingando de bar em bar.

Ozay Moore manda as rimas em “Blue Skies”, me passando aquela vibe de tranquilidade, mesmo em meio ao caos da cidade grande, tipo Nujabes. Inclusive, recomendadíssimo pra fãs de lo-fi hip hop, na vibe do Nujabes, por ser um disco muito acessível, sonoramente falando. Não é aquele estilo de jazz conservador, que você precisa quebrar a “barreira” da improvisação incessante de instrumentos.

Os maluco metem uma cítara no meio do bagulho em “Down” que, como o próprio nome sugere, é a com clima mais soturno do disco. Guizado tocando junto com os menino aqui, sendo um forte candidato a aparecer aqui na ESCUTA também, já que é um rolê que a gente curte.

“James Bongô” e “Menino Angoleiro” vão fechando o disco, a primeira sendo perfeita pra aquelas cenas de perseguição de carro em filmes da década de 70, a segunda com uma groovezeira que vai descendo a ladeira pra fechar o disco.

Irmão, que satisfação ouvir um disco desses, exalando o cheiro da rua, o balanço da identidade da nova música brasileira. Várias participações, várias influências… Discaço.

ESCUTA aí:

Ou se preferir, ESCUTA no Spotify.

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Matheus Ferreira

um psicólogo infiltrado no rolê cultural. tento não ser um desescutador.

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