Resiliência na contemporaneidade

Flaira Ferro é cantora, compositora e dançarina. Natural do Recife, nasceu e cresceu no meio artístico. Pulsa em suas veias a efervescência do frevo e da cultura popular: a maior riqueza de suas raízes nordestinas.
Na semana passada lançou o clipe da música Suporto Perder, um som que traz corajosa contraversão de quem está diante das imposições e retrocessos que tentam nos enfiar goela abaixo. Diante da competitividade e briga de forças, queda de braços a que sempre estão nos convidando, uma questão paira no ar: o que nos dá suporte pra atravessar os desafios da vida?
O clipe vem com um mar de gente representando a resistência coletiva. Ou seja, a medida para romper com o furacão de imposições às quais querem nos condicionar é resistir junto. Esse mar de gente foram mais de cem pessoas de Recife e São Paulo que, de forma colaborativa, abraçaram a ideia da música e toparam gravar. O elenco foi convidado na oficina aberta “Andar junto”, ministrada por Flaira.
Para abrilhantar ainda mais essa produção, o convidado especial é Chico César. Trazendo sua resiliência e poder de fala do povo, sempre colocando a humanidade à frente de seu trabalho, Chico vem para reafirmar que a arte tem uma qualidade fina: renomear as coisas e refundar realidades a partir dos sonhos.
Esse som traz o grito contrário à cultura que estimula a competição em nossa sociedade. Suporto Perder, nas palavras da compositora, traz o desejo de ampliar nossa capacidade de lidar com contradições e de assumir a responsabilidade da realidade que queremos criar. Por isso é tão genial.
Estamos juntas nadando contra essa maré de autoritarismo e retrocessos. Acreditamos na força coletiva e suportamos perder. Relembramos também o célebre Darcy Ribeiro: “Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.