Rubens da Selva e seu belo imaginário

Lançado em Julho de 2019, “Existe Um Cachorro Faminto na Minha Barriga Latindo Pra Você” é uma reunião de representações do que há de melhor, quando se trata de referências e influências, na música brasileira e internacional. Percebe-se que o som de Rubens da Selva deságua de vários destinos diferentes, como o sofrimento do sertanejo nordestino, o storytelling do folk e blues americano e até mesmo elementos de polca.
O disco expõe uma interação muito interessante entre os vários gêneros que a banda se propõe a explorar. Eventualmente soa como uma saga no sertão, certamente bebendo da fonte da era setentista de Alceu Valença, tornando o disco um belo e emotivo passeio. Definitivamente não é fácil a tarefa de chegar a um consenso envolvendo contingências lógicas e conceituais dentro de um álbum e, mesmo assim, manter um censo de coesão.
Como vocês podem ver, eles fizeram direitinho:
Queria falar um pouco sobre a capa do disco também, feita em xilogravura contendo um lobo e os dizeres que compõe o nome da obra sobre o seu corpo. Dentro de uma interpretação particular, o nome remete à fome e, coincidentemente, posicionado dentro do lobo. Durante minhas audições do álbum, não parava de pensar em Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e da saga dos retirantes que fogem da seca. Enquanto psicólogo, me atrai reparar nesses simbolismos, sendo intencionais ou não.
Enfim, no geral, o disco vai crescendo consonante ao número de vezes que se ouve. É simplesmente muita coisa pra se prestar atenção, você acaba sempre esbarrando em um detalhe novo – e esse é um dos melhores cumprimentos que se pode fazer.