Spiral Guru e o vazio contemplativo

Eu tento falar menos das bandas de doom e stoner mas não tem como, mano, tá boa de mais essa cena. O grupo de hoje é o Spiral Guru, de Piracicaba, com o álbum Void lançado dia 12 de Julho.
O som cês já conhecem, de certo modo, tá emaranhado na vivência de quem vai atrás dessa manifestação artística: aquela fusão da psicodelia do final da década de 60 e o metal que o Black Sabbath pavimentou. Obviamente, qualquer tentativa de colocar a arte em caixinhas se mostra muito pobre, mas serve pra passar a visão.
Void é relevante a começar pela capa, onde – levando em conta o atual momento de desmonte da amazônia – nota-se que há um buraco de vazio e escuridão aberto no meio da mata, levando árvore e os caralho.
É possível ver alguns elementos tribais atrelados ao som, que remetem à floresta e dão um tom enigmático. Essa alegoria pós-apocalíptica e misteriosa é recorrente nos trabalhos da banda, inclusive.
Destacaria no disco os vocais de Andrea Ruocco, que têm uma tonalidade mais suave, contrastando de maneira interessante com os momentos mais pesados da cozinha de José Ribeiro (baixo) e Alexandre Garcia (bateria), casando muito bem que as levadas mais psicodélicas e os riffs cativantes de Samuel Pedrosa. Deu muita liga com a proposta do disco e funciona em todos os momentos, realmente impressionante.
Julho foi um mês bastante prolífico no trato da produção musical brasileira, mostra-se nítida a moção da cena bê-érre em direção a um modelo artesanal que pleiteia com o estadunidense e o europeu, mesmo levando em conta as dificuldades que cada artista tem que enfrentar pra fazer música e conseguir espaço nessa terra. Quando vi o disco no Stoned Meadow of Doom (que é basicamente a bíblia digital do cenário underground mundial) senti um baita orgulho.
É isto. ESCUTA.