Na última sexta, Diomedes Chinaski dropou uma música que se autointitula “uma diss para Bolsonaro”. Enquanto fãs aplaudiram o som do cara no Brasil inteiro, uma galera sentiu-se ofendida e distribuiu dislikes no vídeo do artista. A questão que fica é: artistas têm que se posicionar politicamente?
Não é novidade Diomedes assumir suas convicções políticas em sons. Quando ainda estava estourando, ele lançou esses versos na cypher Expurgo:
De um lado um público jovem
maldita massa despolitizada
As vezes uns tão radical, mas base teórica nada
Nunca invejei ninguém, na verdade ataquei a estrutura
Uma grande manobra arriscada
como Bukowski em literatura
Chinaski, o aprendiz, filho de Lula, não de Ustra
Dessa vez, Diomedes foi além. Em versos ácidos e punchlines certeiras, o rapper chega a dizer que salvará o Brasil, mirando e disparando “na cara desse imbecil”. Mas não fica só aí. Saca só:
Não precisamos de mais retrógrados
Chega de armas, queremos livros
Nós não queremos riquezas em sarcófagos
Sem liberdade não estamos vivos
Vi a pobreza de perto, é um inferno
Senti a dor que nos leva pro crime
Não é um playboy militar que vai opinar
Ou julgar sobre o que nos define
Não tem cabimento, não seja um jumento
Até um cachorro entende essa equação
As mazelas da alma, os trauma e a dor
Se cura com amor, saúde e educação
Você não é sociólogo nem antropólogo
Psicólogo e nem pedagogo
Senhor candidato é menino mimado
Soldado frustrado, grande demagogo
Eu não sou petista, eu sou bolchevique
Fascistas amarro e depois toco fogo
Eu sou pró-vida, mas sou contra a vida
Dos filha da puta que mata meu povo
Qual a importância dessa mensagem?
Traçando um cenário que vai muito além do ódio a Bolsonaro, Diomedes tece suas linhas explicando os motivos para o que fala. É triste explicar o óbvio, como ele mesmo canta. Sem medo de espalhar seus pensamentos, Diomedes constrói seu ponto de vista, falando de sofrimento, de atraso intelectual e da morte dos seus irmãos. Para ser mais claro, ataca o “candidato de vocês”, sem medo. É claro que esse ponto desagrada uma boa parcela da população, o que explica os vinte mil dislikes em seu vídeo no Youtube.
Em um cenário de polarização extrema, Diomedes enxerga que seu papel é ficar do lado certo da história, ou pelo menos do lado mais coerente da parada toda. O RAP nunca esteve do lado de pensamentos conservadores, afinal, isso significa a manutenção de um status-quo que sempre irá apontar a arma (dessa vez literal, diferente da que o rapper canta), para o rosto do mais pobre, dos mais vulneráveis. O RAP nunca poderá estar do lado reacionário.
Afinal, o RAP é revolução. Reacionário, por definição, é aquele que se identifica como sendo anti-revolucionário. Para o reacionário, o mundo ideal reside no passado, no que foi e não será mais, salvo se retomarmos os antigos valores. No Brasil, muitas vezes isso significa ditadura militar.
O RAP é presente e futuro, portanto, revolução. Não se pode prender ao passado. O RAP nunca será reacionário.
Por isso, essa canção torna-se tão relevante no cenário. Afinal, há alguns anos atrás, Buddy Poke, Maomé e outros cantavam a cypher Vem Pra Rua, que apoiava o movimento pró-impeachment. Posicionar-se em música, como fez Chinaski, é largar o grito pra quem ainda não entende de que lado o RAP está. Por outro lado, deixa registrado na história sua posição, sem margem para dúvidas.
Para finalizar, deixo aqui uma mensagem de Fióti, em entrevista para o jornal Nexo:
“A arte obriga você a se posicionar. Quem não faz isso é porque não faz arte, faz entretenimento. E eu gosto de arte, respeito o entretenimento mas gosto de arte.”