Africaneando a terra do Pelô: Conheça o som Afropop de Majur
Cantora aposta no afrofuturismo e traz cores às paredes brancas da vida

Africanizando ainda mais Salvador, a Roma negra cantada por Caetano Veloso, Majur desponta na cena cultural brasileira com voz imensa, representatividade e potência estético-existencial únicas.
Destaque do carnaval de Salvador de 2019, Majur cantou no trio da banda Psirico, no Expresso 2222 e no palco ambulante de Daniela Mercury.
No entanto, a relação da cantora de 23 anos com a música é antiga. Já aos 5 anos de idade ocupava as fileiras do coro da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador e de lá foi ganhando as ruas da cidade da Bahia.
Fortemente influenciada pela música preta brasileira e estadunidense, Majur lançou o seu primeiro trabalho (Colorir, 2018), com uma pequena prova de seu talento e sua força poética, alinhando suas letras a toques derivados da soul music e à fusão de beats eletrônicos com claves de matriz africana.
“Majur, bem, Majur é voz.
E certeza de si.
É beleza baiana demais para eu não me abalar.”
Caetano Veloso.
Carregando em seu corpo inúmeras bandeiras de seu tempo histórico, Majur tem a cor preta, identifica-se como pessoa não-binária e está em rápida ascensão para o panteão dos grandes nomes da música brasileira.
Com referências que vão de Chico Buarque a Grace Jones, expoente do movimento afrofuturista nos anos 1970, Majur aposta no afrofuturismo já que compreende que esse movimento artístico “questiona o ‘eu’ negro tomando um espaço de atenção em uma sociedade que não o aceitava”.
Como canta em Africaniei (Majur), esse questionamento sobre o eu negro é levado ao lugar da diversidade já que a cantora entoa sua voz na afirmação de ser “angolano, africano/índio, riquenho, mexicano/preto, amarelo, pardo/sou mistura, brasileiro nato”.
Sendo uma e sendo tantas, Majur se lança no toque contemporâneo do Afropop, mas carrega o agogô banto da identidade de seus ancestrais.
Marcada por referências como Jorge Ben Jor e Tim Maia, Majur cantou na noite soteropolitana e começou a construir uma imagem e uma marca própria transitando em coletivos como o Soul Pretas e pautando a liberdade de ser sem pedir licença.
Não demorou para o seu som e sua proposta musical serem reconhecidas e já num primeiro encontro com Liniker, Majur pôde dividir os vocais com a cantora paulista em uma de suas passagens por Salvador.
A partir daí suas conexões foram se ampliando e parcerias de palco e estúdio surgiram com nomes, seus conterrâneos, como Larissa Luz e o rapper Hiran.
Por sinal, sua relação com Hiran tem dado muita música e as duas revelações baianas, agenciados por Caetano Veloso e Paula Lavigne, vêm propondo renovações críticas à música, à sociedade classista, machista e racista, como também ao conservadorismo nosso contemporâneo.
“Eu sou Majur, de Salvador
Terra do Pelô
Berço da escravização ancestral
Libertação geral
Represento as cores, dores
De um Brasil de preto, branco, pardo, índio
Todos à igualdade racial
Desejos, direitos, sou afro
Africanei”.
Ao propor colorir as paredes brancas, florir e fluir a vida e o corpo do ser amado, Majur e Hiran trazem em Náufrago uma sonoridade tão sedutora quanto moderna, um R&B com sotaque baiano e o suingue brasileiro de Jaguar Andrade (produção musical, arranjo, gravação e mixagem) e Sandro Mascarenhas (Synt Bass e Pad).
Que Majur siga colorindo as paredes brancas por onde passar e que sua pulsante vida artística seja sempre a demonstração cabal da riqueza, pluralidade e beleza da música preta brasileira.