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CRIOLO lança BOCA DE LOBO com clipe fantástico no caos da realidade brasileira

Depois de tempo 'sambático' é hora de detonar mais um rap "Enquanto isso a elite aplaude seus heróis "

Dá pra sacar nos primeiros segundos que o trabalho de Criolo só evolui e sua rota no samba fez arder ainda mais o rap que há em seu peito. Produzida por Nave e Daniel Ganjaman, Boca de Lobo lançada neste domingo (30) traz versos essenciais para enfrentar os tempos que vivemos e reafirma a força de Criolo na música brasileira. A fruição lembra os trampos em Convoque Seu Buda, a melhor síntese do início da insurgência popular que começou em 2013, mas tomou rumos medonhos.

Boca de Lobo é apenas um prefácio do que escutaremos destes mestres até o fim do ano. É o manifesto de uma geração exausta com o sistema e disposta a revolucionar. Feita não só com linhas que revelam nossa conjuntura com toda sabedoria do rapper, suas referências e jogos mentais, mas também com musicalidade que ilustra esse Brasil que todos querem, de volta à nossa civilização originária, onde o som das flautas ecoavam mais que o barulho das armas.

Após Espiral de Ilusão distribuído há um ano e meio ainda não foi anunciado novo disco, mas quem conhece o trabalho dos caras sabe que a OLoko não brinca em serviço. O lançamento veio de surpresa, sem muitos alardes e cresce nesta madrugada a 10 mil views por F5. A uma semana das eleições vem o recado e não é preciso destrinchar muito, a composição já basta:

“Agora entre meu ser e o ser alheio
A linha de fronteira se rompeu” Citação de Waly Salomão em Câmara de Ecos

Aonde a pele preta possa incomodar
Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar
Pegar tuberculose na cadeia faz chorar
Porque a lei dá exemplo: Mais um preto pra matar
Colei num mercadinho dum bairro que se diz “pá”
Só foi meu pai encostar pros “radim”, “tudin” inflamar
Meu coroa é folgado das barra de Ceará
Tem um lirismo bom lá, louco pra trabalhar

Num toque de tela, um mundo em sua mão
E no porão da alma, uma escada pra solidão
Via satélite, via satélite 15% é Google, o resto é Deep Web

A guerra do tráfico, perdendo vários entes
Plano de saúde de pobre, fi, é não ficar doente
Está por vir, um louco está por vir
Shinigami, deus da morte, um louco está por vir

Véio, preto, cabelo crespo
Made in Favela é aforismo pra respeito
Mondubim, Mecejana, Grajaú, aqui é sem fama
Nos ensinamentos de Oxalá, isso é bacana

Na porta do cursinho, sim, docim de campana
LSD, me envolver, tem a manha
Diz que é contra o tráfico e adora todas as crianças
Só te vejo na biqueira, o ativista da semana

La La Land é o caralho SP é Glórialândia
Novo herói da Disney Craquinho, da Cracolândia
Máfia é máfia e o argumento é mandar grana
Em pleno carnaval, fazer nevar em copacabana

1 por râncor 2 por dinheiro
3 por dinheiro 4 por dinheiro
5 por ódio 6 por desespero
7 pra quebrar tua cabeça num bueiro

Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys

Nem Pablo Escobar, nem Pablo Neruda
Já faz tempo que São Paulo borda a morte na minha nuca
A pauta dessa mesa, “Coroné” manda anotar
Esse ano tem massacre pior que de Carajá
Ponto 40 rasga aço de arrombar
Só não mata mais que a frieza do teu olhar
Feito rosa de sal topázio
És minha flecha de cravo
Um coração que cai rasgado nas duna do Ceará

Albert Camus, Dalai Lama
A nós ração humana, Spok, pinça vulcana
Clarice já disse, o verbo é falha e a discrepância
É que o diamante de Miami vem com sangue de Ruanda

Poder economicon, cocaine no helicopteron
Salário de um professor: Microscópcon
Feito papito de papel próprio
Letra com sangue do olho de Hórus
É que a industria da desgraça pro governo é um bom negócio

Vende mais remédio, vende mais consórcio
Vende até a mãe, dependendo do negócio
Montesquieu padece, lotearam a sua fé
Rap não é um prato aonde você estica o que você quer
É a caspa do capeta, é o medo que alimenta a besta
Se 3 poder vira balcão, governo vira biqueira

Olhe, essa é a maquina de matar pobre!
No Brasil quem tem opinião, morre!

La La Land é o caralho SP é Glórialândia
Novo herói da Disney Craquinho, da Cracolândia
Máfia é máfia e o argumento é mandar grana
Em pleno carnaval, fazer nevar em copacabana

1 por râncor 2 por dinheiro
3 por dinheiro 4 por dinheiro
5 por ódio 6 por desespero
7 pra quebrar tua cabeça num bueiro

Enquanto isso a elite aplaude seus heróis
Pacote de Seven Boys

A vontade é de ficar até o sol nascer comentando cada detalhe da composição e também do clipe, uma puta produção de Denis Cisma, Pedro Inoue, Will Etchebere, Paulo Augusto, Luciano Neves, Ale Maestro e mais um time de profissionais com efeitos de tirar o fôlego, cerca de 150 artistas no elenco, cenários fielmente caóticos, leitura afinada com a realidade e um toque necessário de surrealismo. Mas… é preciso que você absorva por conta própria e claro, assista e escute ao menos umas dez vezes no último volume pra cair na real.

O cenário da produção é o caos brasileiro no limite de sua realidade |

Um frame que dispensa merenda, digo, comentários |

Os investimentos na educação foram congelados, mas nossas escolas pegam fogo |

Rie Jesus! |

Porcos chafurdam na lama do rio que era doce |

Aves de rapina se alimentam de seus próprios ovos chocados no SUS |

Não pisque! O clipe é repleto de mensagens certeiras… “1 por amor, 2 por dinheiro, 3 por dinheiro”.. |

Os dinossauros famintos da velha política, das sesmarias, capitanias hereditárias ao congresso |

Ratos saem dos esgotos do metrô, o que eles estavam fazendo lá? Hein? |

É chegada a hora do vampiro deixar o mausoléu e “um louco está por vir, deus da morte, um louco está por vir” |

    Quer flagrar todas as referências? Tá resolvido.

    Obrigado!

    Criolo, Nave e Ganja por mais este trampo que renova a força e a coragem pra lutar diante da realidade nefasta que se descortina sobre a nossa colônia, digo, nosso país.

    LEIA AQUI O PERFIL DO CRIOLO NA ESCUTA!

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    Felipe Qualquer

    No rádio desde moleque pesquisa o universo da música e escuta de tudo. Foi Head de Estratégia e Criatividade da Music2Mynd e Diretor de Comunicação do S.O.M, canal de música da Mídia Ninja. Em MG atuou nas rádios Minas, Nova e 94FM. Em Brasília passou por MIX FM, Transamérica, Metrópoles e Rede Clube. Escreveu para os jornais Gazeta do Oeste e O Popular e Revista ShowBar. Produtor cultural desde 2010 com trabalhos no festival EcoMusic, Rua do Rock, Usina de Rima, Grito Rock, Festa Nacional da Cerveja, Toma Rock, Transamérica Convida, No Setor e Cervejaria Criolina. Estudou Comunicação e Teoria, Crítica e História da Arte na UnB com extensão em Music Business pela PUC-RJ.

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