ELETRÔNICA
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“ELES NÃO SABEM O QUE É O AMOR” Hungria e Bhaskar lançam Abraço Forte na hora certa para o Brasil

Com esse hit transferimos de vez a sede da EDM mundial para o estado de Goiás, vai vendo!

Foi na sexta-feira e hoje o clipe já soma mais de 1 milhão de visualizações. Abraço Forte inaugura uma nova fase na música eletrônica brasileira. E eu vou explicar o por quê. Entre todas as tentativas da recente cena de fazer beats que emplaquem com letras em português, no house, no trance ou no trap, essa é de longe a mais bem sucedida. Foi o som que faltava no repertório do DJ goiano pra virar a chave. Pode parecer cedo para afirmar, mas em poucas semanas você vai escutar essa música até quando abrir sua geladeira.

Se esquecem, não sabem ou não lembram que flores não nascem do ódio.

Há um grande distanciamento do que é massificado através do mercado e da grande mídia e o que vem subvertendo a indústria musical e explodindo paralelamente na internet. Compartilhado de celular em celular. Quero passar longe de criticar produções, em grande maioria de extrema qualidade, aqui vamos nos ater aos temas. É difícil escutar qualquer crítica social, qualquer demonstração de sanidade que fuja do romantismo, dos relacionamentos bem ou mal sucedidos, das juras de amor perecíveis. O sertanejo está bêbado – exceto o das mulheres que estão salvando -, os pops diluídos numa frivolidade absurda e o sol já nem ilumina mais diante de tamanha insistência em incutir a fórmula fracassada da Rua Leão XIII em São Paulo.

Em Abraço Forte Hungria e Bhaskar mostram pé no chão e produção nas nuvens

Hungria é um dos mais legítimos compositores da música brasileira contemporânea. Consegue fumar um narguilê com gosto de hortelã enquanto escancara a realidade fazendo revolução sem precisar ser militante. Fala de sua ascensão social, a ostenta, mas divide com o máximo de pessoas que consegue. Bhaskar apostou na trajetória certa e tem experimentado a música eletrônica pensada com brasilidade, o timbre das cordas que compõe demonstram isso. Não pretende ter uma sonoridade “hey brother” que subliminarmente exalta a guerra, mas faz música que honre sua história de Goiás às invasões urbanas de Amsterdan, de Águas Claras à Pratigi pregando a paz que o Brasil tanto desgasta, mas precisa com urgência. Depois de investir em parcerias com Silva e 3030 Bhaskar passou de fase acreditando no potencial de seu conterrâneo.

E por que a música inaugura uma nova fase na cena eletrônica brasileira?

O mundo está de olho no Brasil, o Brasil está escutando mais o Brasil. Se antes era comum ouvir nas mesas e corredores de estúdios que a sonoridade “gringa” nem se equiparava ao que se produz aqui, hoje produtores brasileiros assumem protagonismo mundial. A música eletrônica cresce longe dos holofotes dos grandes veículos que ao que parece anunciaram um cessar fogo às festas rave e perceberam que o estigma das drogas não se aplica mais. Alok foi impulsionado pela mídia e nasceu então o orgulho brasileiro de ter seu próprio DJ que roda o mundo, mas o brazileiro Ziba e seu inglês nativo não eram o suficiente, a gente quer mais…

Abraço Forte vem com um peso intangível que certamente atingirá tanto os fritos quanto a galera do som automotivo. É uma reunião de tribos, um encontro de culturas que já converge nos interiores e periferias do Brasil. E com uma produção aparentemente simples, mas trabalhada com a experiência e o profissionalismo de Bhaskar, traz novos ares para a produção musical eletrônica, a começar pela ambiência da voz que é limpa, tem brilho, mas não nega as referências estéticas do cantor.

Voz

A voz sempre foi um desafio para as vertentes eletrônicas. O português é complicado, é engraçado como é fácil ouvir Sia cantando “Então, meu amor, continue correndo/Você tem que passar por hoje, sim, sim/Lá, meu amor, continue correndo/Tenho que manter essas lágrimas à distância, oh/Oh meu amor, não pare de queimar” em inglês, mas a versão do Mandrágora de Céu continua no lowstream. Hungria e Bhaskar estão no tempo propício e atingiram um novo nível nas experimentações que já vem trabalhando Vinne, Shawuská, Liva e Deep Motion.

Os versos de Gustavo Hungria chegam no momento exato para o Brasil. Refletem um sentimento comum, independente da ideologia que cativou cada um de nós. O individualismo e as relações líquidas que tiveram um fim amargo e agora sofrem a ressaca chegam nas primeiras palavras e consomem a gente que escuta. Reflexo também do atual cenário de confusão, pós-verdades e hipocrisia que sofre o mundo todo. O abraço e a saudade talvez sejam de todos aqueles amigos que perdemos para a radicalização de um lado e de outro. O que eles queriam foi concretizado, colocar o povo contra o povo. Eles não!

Lembra daquela sexta-feira, pé descalço e poeira?
Sobre o clipe…

Estamos tão perto do fim…

Anunciado de Nostradamus ao Apocalipse esse fim é sempre esperado pelos otimistas como um recomeço. E que assim seja. Mas isso definitivamente não virá de quem não sabe o que é o amor, de quem prega o amor sem qualquer prática. Eles ainda não perceberam que nós, filhos de mães solteiras e avós que valem uma família inteira representamos uma grande parcela da população, resultado do machismo que abandona e não assume. Esse ódio todo tem que acabar.

E são estes os filhos do Brasil que estão no clipe, crianças e adolescentes de projetos sociais do DF que inclusive são ajudadas pelos artistas. Maioria com condições causadas não pela luta de suas mães, mas pela negligência de seus pais. Outros tantos com famílias completas, mas a exploração contínua e o desamparo da sociedade. “Saneamento básico, cacete, esse é o mínimo!” Enquanto vive no conforto querendo reduzir maioridade penal, a elite brasileira demonstra que das alianças aos casamentos, tudo ali é pura conveniência.

Eles não sabem o que é o amor…
Estenda as mãos, não aponte armas!

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Felipe Qualquer

No rádio desde moleque pesquisa o universo da música e escuta de tudo. Foi Head de Estratégia e Criatividade da Music2Mynd e Diretor de Comunicação do S.O.M, canal de música da Mídia Ninja. Em MG atuou nas rádios Minas, Nova e 94FM. Em Brasília passou por MIX FM, Transamérica, Metrópoles e Rede Clube. Escreveu para os jornais Gazeta do Oeste e O Popular e Revista ShowBar. Produtor cultural desde 2010 com trabalhos no festival EcoMusic, Rua do Rock, Usina de Rima, Grito Rock, Festa Nacional da Cerveja, Toma Rock, Transamérica Convida, No Setor e Cervejaria Criolina. Estudou Comunicação e Teoria, Crítica e História da Arte na UnB com extensão em Music Business pela PUC-RJ.

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